domingo, 11 de julho de 2010

segunda-feira, 7 de junho de 2010

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

aiué minha Angola

São 5h00 da manhã, e eu desperto ao som do despertador. Está um frio de rachar, nos meus cálculos estarão alguns graus negativos, e pior que isso, está a chover torrêncialmente.
Dia chato para se trabalhar!!!! pensei eu, mas a verdade é que tenho que sair de casa. Começo o dia neste stress diário, corre-se para apanhar a caminhoneta, para o metro, para o comboio, para o barco, e mais não digo.
Certamente tu que já tiveste a oportunidade de viver em Portugal sabes como é que a coisa funciona. Eu vivo em sassoeiros e trabalhos em algures aqui perto, a 3 quartos de horas de casa, mas como devem calcular as 5h00 da manhã não há camionetas em funcionamento, e tenho que ir a pé porque nem sempre há dinheiro para o táxi. Por alguns momentos fiquei a vacilar, vou ou não!?mas não tenho outra escolha, porque se não for arrisco-me a perder o emprego(e não está fácil arranjar outro por causa da maldita crise). Como ia dizendo, estava vacilante mas acabei por me meter a caminho embrulhado em alguns quilos de roupa, volvidos alguns minutos já lá estava, encharcado que nem pato mas cheguei.
É nessas alturas que passa-nos pela cabeça, «o próximo ano tenho que voltar definitivamente para Angola», mas não é fácil voltar para a terra do dia para a noite, depois de ter vivido dez anos fora do país. Tu pensas nas dificuldades do recomeçar tudo de novo, de ter que depender de terceiros, no facto de ter que dividir o espaço perdendo desta forma a tu a privacidade, na falta de emprego, etc, etc, etc. São muitas as razões pelas quais um imigrante se sente impedido de voltar para a sua terra natal, mas no meu caso as razões são outras.
Vivi até aos meus 21 anos em Angola no centro da cidade capital, mais propriamente no maculusso, rua rei katyavala. No meu ponto de vista uma das melhores zonas em Luanda para se viver, por ser uma zona calma e linda.
Cresci com o melhor que a vida me podia dar naquela altura, as melhores escolas, os melhores cursos, as melhores roupas, e por aí além. Posso dizer que pertencia a classe media alta, até que de repente me vi abrangido pela idade militar, e tive que sair de Angola pois não podia me deslocar para lado nenhum sem que fosse parado pelos famosos anti-motins. As escolas estavam a dispensar alunos com idade militar sem situação regularizada, e o clima de medo se instalou com a noticia que o então ministro da defesa o Sr. Kundi Payma, tinha dito que quem não quisesse ir para as frentes de combate teria que voltar para a barriga da sua mãe. Isso foi a gota de agua! O meu pai fez de tudo para me tirar o quanto antes de Angola. A principio iria para canada numa bolsa de estudos, o que não se concretizou pelo facto da intermediaria passar a bolsa a um familiar seu. Restou-me duas opções:
-Portugal, ou Moscovo.
optei por Portugal, por causa da língua, porque na altura falava-se muito do racismo nos países do leste.
Mas se soubesse o que sei hoje se calhar a minha opção seria outra, e hoje estaria de volta a Angola e bem formado. A verdade é que estou em Portugal, sem muito por onde escolher pois os anos se passaram e nem cursos, nem nada. Não é que não me tivesse preocupado com isso, mas fiz vários cursos que não acabei porque a certa altura perdia os empregos e não tinha como continuar a pagar os cursos então desistia.
A verdade é que agora mais do que nunca a vontade de voltar é muita, porque acompanho a actualidade Angolana quase que em tempo real, e vejo que o nosso país está a desenvolver muito e que as oportunidades são cada vez maiores, a juventude está apostada em estudar e agarrar todas as oportunidades que lhes são oferecidas. Mas como voltar para terra? onde encontrar dinheiro para recomeçar em Angola? Isso sem falar nas passagens que são altíssimas para o meu bolso. Pois já não conto só comigo, terei que levar a minha esposa e o meu filho. Onde ficar?
É verdade, as coisas estão cada vez mais complicadas, no próximo blog digo-te o que farei para resolver o problema...